CONTOS DA SEMANA- O insistente de Quarta-feira

 Acordei e lembrei da gente, olhei meu celular mesmo sabendo que não havia mensagem tua; foi mais pelo hábito mesmo. Senti um vazio profundo, uma sensação de que nada vale a pena. Acho que estou perdendo o juízo.

Eu imaginei tanto para nós, coloquei — como sempre — expectativa em excesso. Bom, a culpa é minha também; eu já deveria ter aprendido que, ao menor sinal de recusa, a gente deve sair fora. Mas eu não sou assim. Mergulhei profundamente nessa confusão.

Sempre pensei que fosse mais forte, que sabia o que estava fazendo. Na verdade, eu achei que estava no controle de tudo. Eu nunca vou esquecer o dia em que você me rejeitou. Eu estava linda, com minha roupa cor-de-rosa; sentei de frente para você, com a taça de vinho na mão, e você frio, agindo como se não tivéssemos tido nada. Você despejou suas cobranças, como se eu não te desse o suficiente. Meus amigos, minha família… todos acabaram se envolvendo na nossa relação, tentaram me fazer parar. Eu não percebia, naquele momento, o quanto eu estava perdida em tuas propostas ilusórias.

Não vejo mais saída. Eu já esgotei todas as alternativas de manter o que tínhamos — ou o que eu achei que tínhamos. Eu preciso tomar uma decisão. Vou me levantar e dar um basta nisso. Primeira coisa é te bloquear… não que eu não tenha aproveitado para checar antes se, por acaso, veio alguma coisa sua — mas eu sabia que não. Bloqueado.

Um som conhecido, vindo do computador que estava ligado, chama minha atenção. Era um e-mail. Meu coração disparou; sentei em frente à tela… e não era você. Era mais um e-mail do “Insistente”, que ligava e mandava mensagens todas as Quartas-feiras. Desta vez eu não vou ignorar. Como decidi que preciso reagir, vou começar abrindo esse e-mail.

Sem conseguir acreditar no que vejo, estou sentindo meu coração batendo forte. O “Insistente” das Quartas-feiras estava me mandando ofertas que você nunca me mandou, com descontos em produtos que, mesmo sabendo que eu amava, você nunca me ofereceu. O nome dele parece mais forte e me passa segurança. Está  me propondo um encontro: eu só preciso colocar meu nome completo e ele me entrega, com rapidez e agilidade, qualquer coisa que eu precise, sem consultar meu nome no serviço de proteção ao crédito — e aceita todos os meus cartões. Vou me preparar para esse encontro. 

Enquanto deixo o download desse novo e lindo aplicativo de compras, corro para o banho. Na água do chuveiro que cai fresca e leve, eu me pego sorrindo, pensando que vi que ele tem um carrinho enorme no canto direito da tela… enquanto você tinha apenas uma sacolinha. Nem era tão atraente.