Contos de Semana - Ilusões de terça
Todas as terças-feiras, Júlio leva, na sua mochila marrom, após o almoço pontualmente às doze horas, um bombom de coco embalado em celofane cor-de-rosa e o deixa na mesa de sua colega Denise.
Eles trabalham juntos há mais ou menos sete anos. No início, durante os três primeiros anos, Denise gostava de acordar nas terças e pensar se receberia o bombom, imaginava se seria do mesmo sabor, se teria o celofane cor-de-rosa que ela, com muito cuidado, guardava em uma caixinha dentro da gaveta — cada um deles.
Esses pensamentos lhe causavam uma certa ansiedade com gosto de excitação. Escolhia seu melhor vestido de florzinhas amarelas, pegava a bolsa e ia para o trabalho com um sorriso no rosto.
Depois de um tempo, Denise começou a refletir sobre o porquê de Júlio não deixar um bilhete, ou convidá-la para sair, ou sequer para tomar um café na lancheria do trabalho. Certa vez, estava com tanta raiva acumulada da situação que, quando ele pediu o grampeador emprestado e o devolveu sem bilhete, sem nada — apenas um “obrigado” seco —, pensou em confrontá-lo, colocá-lo na parede, ou ela mesma chamá-lo para um encontro. Um encontro com sabor de chocolate e coco.
Mas não teve coragem, nem de expressar sua fúria, nem seus desejos. Apenas retribuiu um “obrigada” com um sorriso sem mostrar os dentes.
Na terça-feira do mês passado, Denise decidiu que teria um encontro com Júlio de qualquer maneira. Quando era onze e meia em ponto, viu ele pegar a mochila e sair do prédio velho onde ficava a empresa de advocacia em que trabalhavam. Júlio caminhou até o final da quadra e dobrou a esquina à esquerda. Denise, esgueirando-se entre as pessoas na rua, o seguiu e o viu entrando por uma porta sem bater.
Ao se aproximar, notou que a porta era de um tom amarelo forte, com luzes ao redor. Não havia nenhuma placa. A sensação de ser pega e não ter uma explicação começou a invadir Denise, mas, naquele dia, era tudo ou nada — precisava fazer algo.
Colocou a mão na fechadura dourada e abriu lentamente a porta. Para sua surpresa, havia apenas um corredor imenso — talvez o prédio atravessasse a outra quadra, de tão longo —, e ainda assim conseguiu avistar Júlio entrando na porta da direita, ao fim do corredor.
Alguns homens saíam e outros entravam em portas variadas. Denise foi caminhando e desviando das pessoas. Ao chegar à porta em que Júlio entrara, de cor rosa, pensou que deveria estar louca por fazer aquilo. Mas era, na verdade, a única aventura amorosa de sua vida — precisava ir até o fim.
Colocou a mão na maçaneta marrom e lentamente abriu uma fresta, por onde conseguiu espiar um pouco do que acontecia dentro do quarto. Um móvel, bem na altura da sua mão, estava cheio de bombons com celofane cor-de-rosa; pelo chão, muitos papéis abertos. Quando conseguiu ver, através de um espelho, o reflexo de Júlio com uma mulher nua em seu colo, coberta de bombons, e ele lambendo o corpo dela enquanto ela o incentivava com beijos e lambidas nas mãos que escorriam de chocolate e creme de coco, Denise recuou.
Uma gota de suor caiu sobre sua testa. Ela fechou a porta imediatamente e retornou ao escritório, correndo pela rua e esbarrando em algumas pessoas. Soltou a bolsa e sentou-se à mesa, com as mãos cruzadas, sentindo o suor da corrida — e da situação — escorrer pela coluna, fazendo o vestido colar um pouco nas costas.
Quando deu exatamente meio-dia, Júlio entrou pelo corredor do escritório e caminhou direto até a mesa de Denise. Ergueu a mão com o bombom de celofane cor-de-rosa e o colocou na ponta da mesa. Assim que tirou a mão e ia voltar para sua mesa, Denise, em um rompante de sentimentos, sem se virar para olhá-lo, disse em voz alta:
— Eu não gosto de coco!
Uma atitude imprevisível que Júlio não pôde conter a expressão de susto. Ficou olhando para ela por alguns segundos e baixou os olhos, como se buscasse forças para falar. Aproximou-se, na altura do pescoço dela, e, com a boca perto de sua orelha, disse:
— Eu também não gosto de coco, nem mesmo de chocolate. Mas gosto da sensação que sinto de ser amado quando saboreio ele. Você não sente o mesmo?
Sara Borba Reginatto
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